quarta-feira, 3 de setembro de 2025

FESTIVAL CAJU DE LEITORES: DE 2 A 5 DE SETEMBRO ACONTECE O MAIOR FESTIVAL DE LITERATURA INDÍGENA DO BRASIL

 

Foto: Reprodução/Caju de Leitores

Com tema A Voz da Terra, a 4ª edição do evento consolida um movimento que triplicou publicações regionais e prova que a cultura ancestral é viva e contemporânea

No sul da Bahia, o que nasceu como o sonho de reabrir uma biblioteca fechada há 15 anos transformou-se em um dos mais importantes festivais literários do país. Realizado na Aldeia Xandó, em terras Pataxó, o Caju de Leitores tornou-se sinônimo da ascensão de uma nova geração de escritores indígenas, que hoje contam suas próprias histórias e colocam os povos originários no centro da produção literária brasileira.

O impacto é visível: o festival já triplicou o número de publicações de autores regionais, inseriu obras indígenas nos currículos escolares e garantiu espaço para a literatura indígena em eventos nacionais. O nome do projeto, que une a referência à fruta nativa ao acrônimo de “Caraíva Juvenil”, simboliza a proposta de aproximar jovens leitores indígenas da tradição oral e, ao mesmo tempo, conectá-los ao mercado editorial.

A história do festival remonta a 2014, quando a idealizadora Joanna Savaglia constatou a ausência de livrarias, a carência de livros na região e a biblioteca municipal fechada desde 1999. Após uma campanha de financiamento coletivo que reabriu a biblioteca comunitária em 2015, o projeto conquistou sustentabilidade financeira em 2022, por meio da Lei Rouanet. Desde então, o Caju se consolidou como um espaço de criação literária e preservação cultural.

Em apenas três edições, o evento revelou novos talentos, como Sairi Pataxó, que lança em 2025 seu segundo livro pela Editora Terra Redonda. “O festival me mostrou que nossa voz importa. Passei de autor independente a participante da Festa Literária Internacional de Cachoeira e da Bienal do Ceará. Ver meu livro adotado em escolas prova que nossa cultura merece espaço”, afirma o escritor.

O impacto econômico também é significativo: toda a contratação de serviços de hospedagem, alimentação e transporte é feita exclusivamente com profissionais indígenas da região. Em sua quarta edição, o festival já movimentou mais de R$ 1,53 milhão captados pela Lei Rouanet, beneficiando diretamente a comunidade local.

Caju de Leitores 2025

A 4ª edição c Festival Caju de Leitores 2025 acontece de 2 a 5 de setembro, das 9h às 18h, no Centro Cultural Indígena Pataxó da Aldeia Xandó, no Território Indígena Barra Velha. O evento traz como novidade o lançamento da coleção Biografias Ancestrais, que terá como destaque a obra dupla de Thyrry Yatsô sobre a trajetória de seu tio, o Cacique Galdino, brutalmente assassinado em Brasília, em 1997.

Com o tema “A Voz da Terra”, o Caju reafirma sua posição como o primeiro festival dedicado à literatura indígena do Brasil e agora integra o calendário oficial de eventos de Porto Seguro (BA). Entre as atividades, estão os círculos de conversa sobre a língua Patxohã, considerados fundamentais no processo de revitalização linguística.

“Em 2022, discutíamos como recuperar a língua. Em 2023, já tínhamos materiais didáticos. Em 2024, o debate ocorreu quase inteiramente em Patxohã. Hoje, mostramos que a identidade indígena resiste mesmo quando a língua enfrenta perseguição e risco de extinção”, afirma o curador Trudrua Macuxi.

A programação contará ainda com contação de histórias, apresentações artísticas, feira e varal literário, rodas de conversa com escritores e lideranças indígenas, além de lançamentos de livros e saraus. Entre os convidados desta edição estão nomes como Auritha Tabajara, Ajurú Pataxó, Aline Kayapó, Gabriela Rodella, Liça Pataxó, Lucia Tucuju, Marcos Terena, Nitxinawã Pataxó, Thaiz Pataxó, Thyrry Yatsô, Vãngri Kaingang e Yamalui Kuikuro.

O festival terá dois palcos montados no Centro Cultural Indígena Oca Tururim: o Palco Maria Coruja e o Palco Cacique Sabará, ambos nomeados em homenagem a lideranças indígenas vivas e atuantes. Esses espaços receberão bate-papos com estudantes, apresentações artísticas, lançamentos, mesas de autógrafos e feira de artesanato.

Para a idealizadora Joanna Savaglia, o projeto traduz o fortalecimento do protagonismo indígena na literatura: “Cada livro publicado é uma semente. Quando um jovem indígena se vê como autor, entende que pode ser protagonista de sua própria história. O Caju nasceu como uma aposta ousada e hoje prova que a literatura indígena não apenas resiste, mas floresce e transforma: leitores em escritores, tradição em futuro, cultura em legado”.

O festival é uma realização da Savá Cultural, com apoio do Ministério da Cultura e Governo Federal; patrocínio via Lei Rouanet de Neoenergia Coelba, Instituto Neoenergia e Itaú; e patrocínio da Secretaria Municipal de Turismo, por meio da Superintendência de Cultura, além da parceria acadêmica da UFSB e rede de parceiros locais.



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